The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Ebook: Oblomov



Oblomov requer ser descoberto, pois mesmo tendo sido traduzido para o Brasil, sua única versão está esgotada. Os direitos de tradução devem ficar com outra editora, provavelmente a Cia das Letras. Aguardemos. 

Tive a oportunidade de examinar um exemplar, o que está na foto dessa postagem, na Biblioteca Mario de Andrade. O exemplar, único, se encontra na coleção de livros raros e só pode ser manuseada em loco. Para fotografar é preciso assinara um termo de sessão de imagem. Ai se eu quisesse poderia fotografar o livro inteiro. O que não é nada interessante. 

Eu provavelmente não compraria essa edição, pois o tipo de papel reflete bastante luz, ofuscando a leitura. Além do tamanho da fonte ser desconfortável. Espero que a próxima edição seja melhor no quesito conforto para leitura. O fru-fru da capa não me interessa.

Há em torno dele um culto, mas não se aflija se você não encontrar esse edição, há outras: a edição lusa, as inúmeras edições em inglês (em domínio público) e espanhol. Para estes últimos há que se ler nos respectivos idiomas. Se não lê, espere.

Eu mesma só soube desse livro, que foi publicada 1859, de autoria do autor Ivan Gaoncharov, há pouco tempo. Não é seu filho único, mas o que mais fez sucesso, em parte por cair nas graças do maior crítico literário russo da época, Bielinski, que depois veio a ser seu amigo e já era de Turgueniev, amigo de ambos.

Goncharov navega na mesma escola de Turgueniev, o realismo pendendo para o naturalismo. O autor defende que a vida no campo é melhor que a vida na cidade. 

Oblomov é um senhor de terras, que as herdou do pai. Filho único foi excessivamente cuidado para que não se o perdessem. Típico de filhos únicos. Mas nesse caso não é déspota e nem baladeiro. Esse zelo que privou a criança das brincadeiras e o jovem das aventuras fez de Oblomov um adulto enfadado com a vida social, mundana e competitiva que o circundava.

Como funcionário publico, logo se cansou, e cometendo um erro, arranjou um atestado médico para justificar sua demissão. 

Quando o encontramos ele está prostrado na sua cama, imunda, o quarto não é limpo há meses. Seu criado, sob o qual perdeu a autoridade, lhe desdenha, e responde. Este pouco se importa em fazer seu dever, se chateando cada vez que é chamado pelo amo. É preguiçoso, irascível e não se dobra a ninguém, Zahar, além disso é estabanado e tudo que lhe cai na mão também cai ao chão. Apesar de servir o pai de Oblomov e ele há muitas décadas, Zahar nunca se deu ao trabalho de se corrigir e nem admite que o corrijam. O tempo dará a ele uma bela lição, mas mesmo assim ele preferirá seu fim do que se corrigir. 

Oblomov é o simbolo da Rússia que não quer nenhum contato com o moderno e com o ocidente que prefere ficar deitada na sua terra como ela é e protege-la do que abrir-se.

Andrei, filho de um imigrante alemão, e melhor amigo de Oblomov, representa o novo, o que anseia pelas mudanças, o que viaja e areja a mente. Aquele que recusa a servidão e faz ele mesmo o que precisa fazer. Enquanto Oblomov sempre teve alguém para lhe vestir, por as botas, pentear o cabelo e dar banho. Andrei apesar de ser nobre aprendeu a ser independente, ao estilo alemão da sua casa.

Oblomov recebe visitas de ex colegas da repartição. Eles o convidam para almoçar, jantar, passear, ir ao teatro, viajar, mas Oblomov recusa sob o argumento que ficará resfriado, doente e tantas outras desculpas. 

A renda das terras tem diminuído ano a ano. O administrador lhe escreve pedindo que vá a sua propriedade para tomar pé da situação e cobrar os mujiks que lhe devem, mas Oblomov não sabe nada de nada. Ele nunca trabalhou, nunca aprendeu nada, portanto ele se comporta como uma criança mimada. Os poucos que lhe apresentam alguma solução ele recusa porque se faz necessário sair do seu quarto e agir. 

O ócio de Oblomov preocupa Andrei, o filho do alemão. Ele teme que Oblomov que já está acima do peso venha a morrer por levar uma vida tão ociosa. 

Por um breve momento ele consegue tirar Oblomov de casa sob a promessa dele não se deitar, exceto para dormir à noite. Ele desafia sua amiga Olga, uma jovem de 20 anos, a dar um jeito em Oblomov. Ele providencia para que ambos se encontrem por acaso no parque e a partir dai desenvolve-se um processo de encantamento-arrependimento-sofrimento de ambos, pois Olga consegue sim tirar Oblomov do ócio, mas o custo é que ele se apaixona por ela e ela se apaixona por ele. Ambos negam esse sentimento pois veem-se estranhos nessa relação. Oblomov tem mais de 40 anos e Olga é uma menina. Mesmo assim eles sonham com um casamento que tem obstáculos. Oblomov não tem onde morar e não tem como sustentar uma esposa e os filhos que virão, Ele se aflige vendo seu sonho cada vez mais impossível. Olga desiste de Oblomov porque percebe que ele nunca mudará. Que ele não quer ser diferente, fazer as coisas que precisa fazer por si mesmo. Que ele é incapaz de tomar decisões e de agir. Ele sempre vai depender de alguém fazendo as coisas para ele.

A dor da separação deixa Oblomov deprimido por um ano e Olga vai para Paris para esquecer a sua tristeza.

Andrei acaba encontrando Olga em Paris e depois de seis meses de encontros e passeios ele se vê apaixonado por ela. Então ele pede ela em casamento.

Andrei volta a São Petesburgo e resolve os problemas de Oblomov. Retira o administrador que o estava lesando. Arrenda ele mesmo as terras. Afasta Tarantiev e o irmão de Agafia que estavam tirando todo o dinheiro da renda das terras, mas ainda não fala sobre ter pedido Olga em Casamento.

A vida de Oblomov segue pacificamente. Ele e Agafia e um filho, mas o sedentarismo de Oblomov cobra sua conta e ele vai ter um avc. Fica com uma perna paralisada, mas com os cuidados de Agafia e dos filhos dela ele vai se recuperando. Andrei não gosta dessa relação por uma questão social, Agafia está abaixo de Oblomov, um senhor de terras, mas ela é a mulher certa para ele. 

Outros avcs irão acontecer até que Oblomov venha a partir deixando Agafia inconsolável. Para Andrei que não imaginava que alguém pudesse amar Oblomov, eis que duas mulheres de condições sociais e intelectual diferentes não só o amaram como sofreram sua perda. 

Oblomov pode ser um bebê grande que não sabe fazer nada sozinho, sem iniciativa e preguiçoso ou manhoso. Ele quer ser servido porque foi assim desde seus ancestrais e para ele é assim que deve ser, Mesmo que ele tente mudar e adotar o estilo ocidental, ele no fundo não quer perder os privilégios do habito adquirido. 

Zahar, seu criado de quarto, este mais oblomoviano que o patrão também tem oportunidades de mudar e não quer, mas a ele o autor reserva a rua e mendicância, pois não se pode insistir no erro.

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