The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Hontanas-Fromista-31Km


Hoje foi um dos dias mais duros. Acordei cedo e a dupla de alemães já havia partido do outro albergue pensei. Teem estado por perto com frequência que já me acostumei com eles. Ainda é um pouco escuro e preciso usar a lanterna. O trecho é aquele já famoso, as mesetas. Quando a italiana Antônia falava essa nome não entendia. Nunca tinha ouvido falar nesse termo. Fui procurar na Internet e descobri que é o nome dado ao relevo plano. É bem típico na Espanha. Fazer o quê? Tem gente que acha ótimo não ter que subir e descer. Tem gente que acha horrível caminhar horas em linha reta vendo sempre a mesma paisagem. É como ficar horas em pé parado no mesmo lugar.

A maioria do percurso é feita sem sombra. Pela manhã sem problemas, mas à tarde o calor apertou.

Já passava do meio dia. Muito sol e pouca água. Tinha planejada parar em Boadilla del Camino. Dou uma olhada no albergue e sigo para outro onde está Antônia e Pedro. Eles descansam e dizem que vão à Fromista. Depois de Boadilla, mais reta. Só que agora tem um corredor de árvores que seguem o canal e alguns tufos de sombra. Vou parando nas sombras. Às vezes sento na mochila e tiro as bota para arejar os pés.

Vejo a eclusa uma espécie de barragem. Turistas estão ali tirando fotos. Penso chagamos, mas ainda tem uns 2Km até o albergue. Um alemão parece estar disputando uma corrida para chegar antes de mim no albergue. Não me importo. Deixo ele seguir nesse delírio competitivo. Ele se perde e começa a perguntar onde é o albergue municipal.

Chegamos. A hospitaleira me envia para um quarto junto com Antônia, Pedro e mais dois espanhois. Só sobra a cama de cima do beliche. Meus pés doem enquanto tento subir na cama e lágrimas  escorrem pelo meu rosto. Antônia oferece sua cama de baixo diz que não se importa e que está bem. Não aceito. Fora do quarto, no corredor há dois beliches que estão vazios e penso em me mudar para lá se me disserem que não pode durmo no chão. Mas não veio ninguém me expulsar da cama. Dois italianos chegaram, pai e filho. Já havia visto eles, mas não tínhamos conversado ainda. O rapaz me conta que esteve por 4 meses em João Pessoa. Fala algumas palavras em português e me mostra um cartão com o Hino Nacional. Ele conta os primeiros versos. Aprendeu por conta da última copa do mundo, período em que estava no Brasil e acompanhou as partidas.

Penso que nós brasileiros, em geral, temos vergonha de andar com uma bandeirinha costurada na mochila e ai encontro um italiano que canta o Hino Nacional e leva a letra na carteira.

Desço e peço à hospitaleira onde tem farmácia. Preciso renovar a minha. Não tenho mais bandagens, paracetamol, dorflex, creme para massagem das pernas.
Vai ser complicado explicar o que quero, mas por sorte na farmácia tem só homens atendendo e eles são pacientes. Mostro a embalagem que tenho e ele me mostra um similar, mas precisa consultar o farmacêutico para saber se precisa de receita.
Antônia aparece para comprar seus "cerrotti". Fico surpresa com os preços. Achava que fosse mais caro.

Depois do serviço de praxe (banho, lavar roupa, siesta) ir ao mercadinho do lado do albergue. Cerejas! Não resisto e compro 200g. São bem graúdas. Encontro com Victor, vou ao Hotel acessar a Internet. Um dos espanhois me pede para ser interprete entre ele e duas garotas. Ele quer convidá-las para ir ao museu do queijo tomar uma taça de vinho La Rioja e degustar o queijo. Mas elas tem outros planos com seus pares e o dispensam. Ele não entende, ache deselegante a recusa delas. Depois os encontro com Victor no Museu. Me oferecem uma taça de vinho. Não deixam pagar.

Há uma sala onde eles servem o café da manhã para quem quiser essa opção. Só tem um forno micro ondas e alguns pratos e copos. Como minhas cerejas e ofereço a Victor que me acompanha. Há um menino que veio da Holanda pedalando em direção à França e está fazendo o Caminho Aragonês. Ele come pão com maçã e bolachas "água e sal". Victor acha estranho e tenta falar com ele. Umas meninas francesas traduzem para ele e todos rimos. Falo que no Brasil comemos sanduíche de pão com banana. Victor não acredita e ri.

Vamos caminhar com Victor e outra espanhola. Passamos pela Igreja. Encontramos o casal de italianos saindo da missa. Eles haviam conhecido Victor em Castrogeriz. Antônia tb. estava na Missa. As italianas são as mais religiosas que encontrei.

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