The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


segunda-feira, 1 de junho de 2009

Entre Roncesvalles-Larossoña-31Km.


Sai às 5:30. Ainda estava um pouco escuro. Quem ficou até às 6:00 foi acordado quando as luzes são acesas e pela música que colocam. Precisei usar a lanterna para passar no meio de um caminho no mato. Caminho plano no início. Subidas com pedras soltas. Bom ter um bastão ou cajado nesses trechos mais instáveis. Só tem água em Burguete que fica à 2km de Roncesvalles. Em Viskareta tem bar. Parei ai para tomar um café e comer um pedaço de tortilla. Na saída da cidade tem um super mercado pequeno (Tienda de Alimentación). Dá para comprar suprimentos para passar o dia de caminhada e o resto do dia em Larossoña. A partir desse ponto não há onde comprar e em Larossoña só tem um bar e nada mais.

Comprei protetor solar. Meu braço esquerdo está bem vermelho. Coloquei um lenço no pescoço.

No caminho sob sol escaldante uma italiana, Antônia, falou comigo. Veio com um papo de Guia. Até ali ela não sabia de onde eu vinha, mas depois no albergue quando ficou sabendo que era brasileira. Me contou que havia lido o livro do Paulo Coniglio. Ai me caiu a ficha do porque ela ter falado em Guia. Eu não sabia que as pessoas ainda entravam nessa viagem do livro. Depois ela achou um "guia" espanhol e fez todo o caminho com ele, mas ai ela já estava pia que ela era o guia dele. Ela dizia que tinha que trazê-lo de volta para a religião.

Acho interessante esse negócio de "guia". Funciona como um apoio para a pessoa não desistir.

Cheguei às 14:00. O Albergue de Larossoña abre às 15:00. Tem pouco espaço dividido em duas casas, mas eles dão um jeito. Albergue 6€. Tem travesseiro, varal, água quente. Não tem cozinha. O bar serve menu do peregrino por 12€. Os donos pareceram impacientes com os clientes. Não faziam nada além do que queriam. Nada para agradar.

É como se dissessem:"Não estou aqui para agradar, mas para vender. Se quiser é assim."
Eles provavelmente são aposentados e devem pensar que somos nós que precisamos deles e não o contrário." E como não tem concorrência podem se dar ao luxo de tratar com desdém as pessoas.

No albergue tem acesso à Internet por moeda: "20min/1€. As camas não são numeradas. Tem dois banheiros e dois chuveiros mistos.

Segui a rotina do peregrino. Chegar no albergue, acomodar-se na sua cama, tomar banho, lavar roupa e descansar para depois da siesta (o período em que tudo fecha) pensar em procurar comida. Fiz algumas anotações. Mais tarde fui ao restaurante tomar um café. Encontrei com os italianos que foram reservar o menu do peregrino. Nos sentamos no jardim e ficamos conversando. V. me ofereceu uma taça de vinho. O italiano contou que no dia anterior voltou à SJPP de carona. Foi para a estrada e apontou o dedão. Disse que não fazia isso desde a adolescência. Estava empolgado com a experiência. Fiquei sabendo como se fala pedir carona em italiano: "auto stop".

Os europeus ficam impressionados que alguém do Brasil venha de tão longe especificamente para fazer o Caminho de Santiago. Não sei que ideia eles tem do Brasil. Alguns se espantam que eu seja brasileira. Acham que no Brasil só tem pessoas de pele escura e certamente nos acham tão pobres que não teríamos condição de passar um mês à toa caminhando pela Espanha. O único concelho que posso dar é venham conhecer o Brasil em loco.

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