The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Poente de La Reina-Villamayor de Monjardín-29Km


Desci as escadas às 5:15. Arrumei minhas coisas na mochila e comprei um café de máquina. Comi um sanduba com o café. Um casal de italianos do norte está por perto e puxo conversa. Ficam surpresos ao saberem que falo italiano sendo brasileira. Seguimos juntos e na ponte que dá nome à cidade Paola tira uma foto minha. Eles andam com mochilas que também podem ser puxadas como um carrinho de feira e podem ser levadas às costas. Pergunto se não incomoda e se não fica mais pesada aquela estrutura. Eles acham normal, mas pra mim não daria pé. Começaram o Caminho em Pamplona, portanto ainda estão no segundo dia de caminhada. Marco faz muitas perguntas. Quer saber como é a vida no Brasil. Pergunta de Lula. Fica chateado com as trapalhadas de Berlusconi. Rimos das comparações. Depois quer saber como são os brasileiros que ele só conhece da TV e do Carnaval. Explico que no Brasil há uma mistura de várias culturas e etnias. Ele achava que só haviam pessoas de pele escura e índios. Explico que no sul estão os descendentes de imigrantes europeus e no norte e nordeste há mais descendentes de africanos, e árabes e no norte e no centro havia mais descendentes de índios, mas eles são cada vez mais uma minoria étnica. Mesmo nestas regiões há uma mistura de etnias devido a migração de pessoas do sul.

Na subida aumento o passo e eles ficam para trás.

Quando estou chegando em Estella já é quase meio dia. Não tenho mais água e estou bem cansada. Sento no chão para descasar. Passa um rapaz francês e peço um pouco de água. Ele diz que logo adiante tem ou que já estamos chegando. Ele tinha um squeeze cheio de água. Eu só queria um gole.

Há um gramado próximo à ponte e próximo à igreja uma fonte de água. Atravesso a ponte e vou até um dos albergues. Dou uma olhada. Acho que ainda é cedo para ficar ali. Compro um refri e volto para o gramado. Faço alguns alongamentos e deito para descansar. Tomo meu refri e como e faço algumas anotações.

Vou me arrastando no calor. A cada vilarejo que passo tem um albergue, mas não tenho vontade de ficar. Sigo em frente e vou chegar às 17:30 em Villamayor. No albergue municipal está lotado. Uma americana sai correndo na minha frente literalmente disputando uma vaga. Volto ao albergue paroquial pelo qual havia passado. Ainda há três lugares. O banho é frio, mas não ligo porque andei tanto tempo sob o sol que meu corpo ainda está quente. Temos que lavar a roupa na pia do banheiro.

Saio para estender e uma alemã me mostra onde é o varal. Com meus pés superdoloridos tenho que caminhar até um varal atrás da igreja. Volto para cuidar do pé que está mais dolorido e descanso.

Vou ver o que tem no bar e acesso a internet. Há um grupo grande jantando. Volto e preparo uma sopa instantânea e como com pão e meio sanduba que sobrou do dia. O albergue tem cozinha. A hospitaleira fala italiano e pergunta que horas vou sair no dia seguinte. Me avisa que antes de sair posso tomar um café oferecido pelo albergue.

Dali por diante sempre que encontrar um albergue paroquial no lugar para onde for vou parar nele. O lugar é precário, mas oferece mais que o conforto físico. Oferece um aconchego. É como chegar em casa e encontrar alguém que te espera para te abraçar e conversar contigo sobre o teu dia. Não é apenas um funcionário que está ali apenas para carimbar a credencial e te dizer onde fica a sua cama.

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