Daí para diante mais mesetas e caminhar sem pensar. Nos últimos Km um espanhol me acompanha. Somos os primeiros a chegar no albergue das Irmãs Clariças. Há vários na cidade de Carrion de los Condes, portanto muitas vagas. Há também um enorme albergue Internacional Hostels. Sentamos ali na porta e ficamos conversando. O espanhol está terminando de talhar uma mini cruz com o canivete. Disse que quando estava perto do Canal depois de Boadilla uma farpa da madeira saltou no seu olho e teve que voltar à Boadilla para pedir ajuda.
Tem um boton de um touro na mochila Pergunto se gosta das touradas. Ele diz que não, que muitos espanhois são contra as touradas. Digo que é um negócio que envolve muito dinheiro, como corrida de cavalos. Ele concorda e diz, mas no final matam o touro e os cavalos não. Os toureiros de prestigio são como celebridades na Espanha. Alias as revistas tipo "Caras", na Espanha só trazem matérias sobre a nobreza de vários países. Príncipe daqui, rainha dali. Parece que esse estilo de vida interessa aos espanhois.
Fiquei sabendo que a princesa da Suécia está chateada com sua irmã, sucessora ao trono. Ela ainda não se casou porque seu pai não aceita um plebeu como esposo da futura rainha da Suécia. Enquanto não se casa a irmã mais nova não pode casar.
Uma das irmãs sai com o lixo e me ofereço para ajudá-la a levar os sacos até o lugar onde deixam o lixo na rua.
O Albergue abre às 12:00. Tem cozinha equipada, lavandeira. Pouco espaço para estender roupas.
Ganho uma cama de baixo. Minha cama é o número 2. pergunto se é "abajo" a irmã diz que sim e pergunta se prefiro "arriba". "No, no,no!" depois desse dia não dormi mais arriba.
A cidade está se preparando para o feriado de amanhã: "Corpus Christi." Não veremos os tapetes de flores e serragem.
Aproveito que o comércio está aberto e vou ao supermercado. Há um razoável. Compro uma pasta que pode ser esquentada no micro. Cerveja sem álcool, refri, pão e mais algumas provisões para o dia seguinte. As cerejas estão passadas.
Antônia e Pedro, Victor, a dupla de alemães e o casal de italianos ficam no albergue dos Beneditinos.
Compro cartões postais. Vejo muitas pessoas preenchendo postais. Ainda teem esse hábito. No Brasil faz tempo que não vejo gente enviando e faz tempo que não recebo postais, nem mesmo cartas enviadas pelo correio. É um hábito que já faleceu.
Na Europa, imagino que as pessoas não usam tanto a Internet como nós e por isso ainda mantem alguns hábitos que nos foram roubados pela massificação do universo online.
Pelo caminho se vê pessoas usando câmaras com filme. Coisa rara, mas ainda usam. Antônia usa uma dessas câmaras. E o casal de italianos tem uma dessas câmaras descartáveis.
O sol à tarde convida a ficar em casa. Dá para entender porque o comércio fecha das 14:00 às 17:30. Quem sairia de casa nesse sol para fazer compras? Só os turistas.
Depois que o sol baixa vou novamente ao supermercado e passo por um bar para tomar um café, mas acabo tomando uma taxa de vinho. Há muitos dos caminhantes nos bares tomando cerveja em canecas enormes, fumando, conversando.
No albegue tem Internet com moeda e tenho que esperar desocupar para acessar.
Um dinamarquês me pede ajuda para comprar o bilhete de Santiago à Copenhagen pois ele não entende espanhol. Conseguimos uma tarifa boa com a Ibéria. Fazemos a transação. Já estou ficando expert em comprar bilhetes online.
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