Encontro o californiano com os calcanhares em carne viva e mancando. Pergunto se ele não tem um chinelo. Ele diz que já está chegando. Mais adiante encontro com ele de chinelo e meia.
Antônia está com o tênis detonado. Era muito velho para tanta estrada e não suportou. Ela teve que comprar outro. Acontece com as pessoas que não tem noção do que levar e do que usar em caminhadas.
Tem dois alemães que estão quase sempre por perto. Um deles carrega uma mochila de 75 litros. É visível o sofrimento com o excesso de peso, mas ele parece estar tentando provar que é forte. Quando paro para descansar um deles pede para tirar uma foto minha. Nem posso imaginar o que irão contar quando voltarem para casa. Vão mostrar a foto e dizer que eu estava quase sempre por perto e que só levava uma mochilinha.
Depois de Burgos o fluxo começa a diminuir. Quem está fazendo o caminho em etapas para em Burgos. Quem faz somente o fim de semana também fica para trás.
Em Hontanas fiquei no Albergue Municipal. Chegamos quase às 12:00. O sol já inclemente. Preferi sempre sair cedo do que caminhar no sol após ao meio dia. O inconveniente é que se chega cedo nos albergues e depois fica-se a tarde toda ocioso. Dorme-se à tarde e depois fica mais difícil dormir à noite.
Minhas pernas doem e costuro mais uma bolha pequena. Hontanas é um poeblo. Uma rua e algumas casas aparentemente desabitadas. Se o Caminho não passasse por ali ninguém ficaria nessa fim de mundo.
Sento num banco em frente a um bar e um senhor de nome Fernando senta-se ali também. Ele está meio alto e tem um corte no super cílio que está sangrando. Pergunta meu nome e me conta coisas. As pessoas me olham como se me dissessem o que estou fazendo ali dando atenção a um borracho, mas não me importo. Ninguém iria dar atenção a ele. Depois de um tempo despeço-me e vou ao bar tomar un tinto. Descubro que o cara do banco pode ser pai da moça do bar. Talvez ele não tenha o que fazer e a falta de ocupação mata a auto estima de um homem.
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