The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


quarta-feira, 18 de abril de 2018

Livro: A Senhoria



Ordinov tinha um projeto enquanto vivia só com seus livros. Mas ao se deparar com uma moça na igreja e ser despertado por sua devoção e beleza passa a ser atormentado pelo desejo. O desejo arrasta Ordinov novamente aquela mesma igreja na esperança de encontrar a mesma moça e vê-la mais uma vez. E ela lá está a rezar. Ele então se aproxima dela e ela o percebe. Talvez já o tenha percebido da outra vez. 

Mas nada acontece, Ordinov está a procura de outro lugar para morar e vai de porta em porta, onde vê anúncios de quartos para alugar pedindo informações. Deixa um depósito com um senhorio alemão e vai para outro prédio. Lá ele é recebido pela moça que viu na igreja. Ela é a senhoria que dá título a história e esta o convida a entrar e posteriormente a morar ali. Ordinov tem um mal estar e o vemos tempo depois sobre a cama sendo cuidado pela senhoria. A paixão entre os dois explode, mas há o velho Murin, o senhorio, com quem a moça vive e lhe sustenta. Eles tem uma relação "aberta".  Murin por ser mais velho e doente sabe que a moça jovem, Katierina, não lhe será sempre fiel, portanto tolera que ela tenha afeto por outros jovens. Tanto que chega a propor a Ordinov que se sirva da esposa sem se preocupar com ele. A própria moça leva Ordinov ao quarto do casal para que ambos na frente do marido troquem caricias, mas Ordinov não aceita esses arranjo e decide ir embora no dia seguinte. Ele volta a procurar o locatário alemão e requisita o quarto. Novamente cai de cama por três meses. Quando volta a sair de casa descobre que  Murin e Katerina foram embora do prédio. 

O tom meloso dessa novela foi o que mais me chamou a atenção. Seja um romance ou não Dostô exagera no estilo. Faz parecer quase uma fábula. Um sonho impossível. Afinal um jovem sem eira nem beira nada teria a oferecer a um a jovem sem posses. Ambos seriam dois perdidos no mundo. Mais dois pobres coitados tentando sobreviver. E quando o fogo da paixão passa sobra só a realidade fria e dura da sobrevivência. Não há esperança para esse tipo de paixão. Pelo menos Dostô já deixou claro isso em Gente Pobre e no O Duplo e seguirá nesse mote por toda sua obra. Paixão só leva a desgraça, como levou Alexei em Os Irmãos Karamazov, como levou o príncipe Michkin e Rigojin em O Idiota e sabe-se lá em quantos mais. Seguimos lendo...

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