Biografia: Salinger

A mais recente biografia de Salinger, o cara que ficou famoso por um único livro (O Apanhador nos Campos de Centeio), é, segundo seus autores, a definitiva. Todos os outros devem ter dito o mesmo. Mas eles dizem que é assim, porque esperaram Salinger morrer e esperaram pacientemente aquelas pessoas que se recusavam, por lealdade ao escritor, a falar sobre ele. Foram mais de nove anos de entrevistas. Muitas tentativas em falar com Salinger, mas ele sempre proibiu ou dificultou qualquer um que tivesse pretensão de investigar sua vida. 

A Intrinsica põe na banca um calhamaço de mais de 700 páginas que convenhamos certamente custará menos no original em paperback que traduzido e impresso em offset. Opções que não gosto, mas quando tenho preguiça de ler um livro muito extenso em inglês apelo para um sebo e achei um exemplar por um preço que podia comprar. Novo, pois foi lançado a pouco. 

O que me atraiu na sua biografia foi o argumento dos biógrafos de que Salinger enclausurou-se por opção religiosa. Por seguir as regras do Vedanta. Embora eles falem também em Budismo. Em especial do Zen Budismo. Salinger teria optado pelo caminho do suniase, o caminho da renúncia. Na prático um suniase abandona a família, bens materiais e vive sozinho, sendo alimentado por caridade. Quase um monge, mas muito mais radical. Na Índia, suniases são vistos com frequência próximos ao Ganges ou templos. Alguns vivem nas montanhas. Acho pouco provável que ele fosse um suniase legítimo, mas que tenha tentado aplicar o modo de vida budista e vedanta a seu modo de vida. Alguns ocidentais tentam ir por esse caminho que é incompatível com a vida que levamos e o mundo em que vivemos. Sua determinação o levou a separar-se da esposa pois esta alegou abandono das funções de marido e pai. É uma opção difícil de aceitar e compreender. Não se pode esperar condescendência dos demais indo nesse caminho.

Salinger queria ser ator na sua juventude e escritor. Tentou entrar para algum estúdio mas depois de alguns meses de tentativas frustradas acabou entrando para o exército. Lá ele teria um soldo e tempo para escrever. Muitos escritores foram por esse caminho. Espertos. O que Salinger não contava é com os horrores da guerra e que ele teria contato direto com ela. Embora não tenha matado ninguém pois fazia parte da divisão de informação e espionagem. 

Só li, por ora, o seu livro mais conhecido. A pouco vendi a versão em in inglês. Não poderei ler novamente.
Procuro nos sebos e vejo que a tradução está num valor no mínimo curioso. Talvez a ausência de novas edições no mercado tornem os que existem nos sebos mais valorizadas.

A biografia me pareceu bastante repetitiva. Usa a fala dos entrevistados se intercalando com a narrativa dos autores, como se fosse um texto de teatro. O arranjo é interessante, mas a repetição é cansativa. Entendo que ela é necessária para mostrar que se várias pessoas repetem o mesmo é porque é verdade. Ou porque todos tiveram o cuidado em reforçar o que Salinger queria que fosse dito.

Há entrevistas com a cara que matou John Lennon também e outros que mataram sob influência do livro mais celebre de Salinger.

Continuarei lendo.