The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

E-Book-Audio: Dance Dance Dance para não desaparecer

Quase não tenho feito mais resenhas. Já leio pelo menos 100 livros por ano. Não dá para resenhar todos. e depois porque tenho tido preguiça de fazer resenhas. Há muita gente que assumiu essa tarefa e ganha para isso. Então, fiquemos com o que temos. Mas quando não encontro resenhas ou comentários sobre um livro isso me chama ao dever de dar uma palavrinha sobre o mesmo.

No caso de Dance Dance Dance de Haruki Murakami não vi nada em vídeo e nem vou fazer um vídeo porque essa não é minha praia. E só achei uma resenha em português e poucas em inglês. Ou ninguém leu esse livro ou os que o leram o abandonaram porque o acharam sem pé nem cabeça. Deve ter varias resenhas no Skoob, mas ai é para quem tem acesso lá.

Resultado de imagem para dance dance dance haruki murakamiAs histórias do Murakami são confusas Se vc. está começando a ler seus livros e esse foi o primeiro pode ser que essa estranheza tenha te incomodado. Mas não adianta muito trocar por outro. Será mais do mesmo. Haruki trabalha entre a realidade e a fantasia. Aquela vertente que no meio literário costumam chamar de literatura fantástica, ou realismo fantástico, realismo mágico, sonhos. Em muitos livros também tem uma pegada noir. E o sexo quase sempre está presente. Muitos escritores japoneses foram nesse caminho. Dizem que é um tipo de metáfora ou para camuflar alguma dor. Efeito pós-guerra. Sabemos como os orientais são reprimidos.

Mas peraí vc. lê Harry Potter, Senhor dos Anéis e não consegue ler Murakami? Ok, Murakami é mais sutil, às vezes, mas não menos espalhafatoso. Senão vejamos. Em Kafka à beira mar, peixes caem do céu. 

Murakami tem textos normais, sim. O Incolor Tsukuro Tazaki e seus anos de peregrinação, é um deles. Não li muito do autor para formar uma opinião mais ampla. Além disso ele tem um livro sobre corrida e o mais recente traduzido no Brasil e sobre o papel do romancista, O romancista como vocação. Tem também contos.

Resultado de imagem para dance dance dance haruki murakamiSeu último livro lançado em fevereiro no Japão ainda não tem tradução. Kishidancho Goroshi (Matando o Comendador)

Eu tinha  Dance ... em inglês e achei o audiobook dele. Fui ouvindo e acompanhando o texto. Depois desisti do áudio e  li sem só o texto.

Um cara tem um rápido relacionamento com uma garota em um hotel em Sapporo. Quatro anos depois ele tem sonhos estranhos onde ouve a garota chamando por ele. A garota se chama Kiki e o hotel Delphin. Então ele decide ir à Sapporo para investigar, mas ao chegar no hotel, onde fez reserva por telefone, descobre que o hotel antigo tinha sido substituído por um modernoso estilo Star Wars. Ninguém ali sabia informar sobre o antigo hotel e seu dono.

O hotel tem um problema no 16 andar que ninguém fala, mas a recepcionista acaba por propor um encontro e revela ao protagonista que coisas estranhas acontecem nesse andar. Ela descreve o que há por lá. Provavelmente um portal para outro lugar. Muito comum nas histórias do Murakami. Mas quando  outros vão no andar o encontram completamente normal.  Ficou curioso?

Quem não ficaria. O protagonista vai até o 16 andar.

Mas há outros mistérios. Parece que duas companhias grandes andaram comprando tudo numa determinada área que incluía o velho hotel e que seria renovada pelo poder público. Aqueles que não quiseram vender seus terrenos esse empresa teria recorrido a Yakusa, uma facção semelhante a máfia que pressiona comerciantes e proprietários em troca de proteção, mas modernamente eles agem em qualquer frente que lhes pague bem. Para empresas, políticos, pessoas físicas...Todo tipo de trafico, espionagem, enfim, qualquer demanda que gere lucro.

Até ele ir ao 16 andar tem uma monte de digressões. Mas ai ele vai de dia e o andar está normal. Então ele tenta ir depois da meia noite e o andar está como a recepcionista descreveu. Mesmo com muito medo ele fica lá até que o Homem Carneiro aparece e fala com ele. Mas ele não pode ficar nesse limbo do hotel, ele tem que voltar para seu mundo. O Hotel Golfinho é uma das histórias de Caçando Carneiros, outro livro do autor que ainda não li, mas tenho e fui dar uma olhada. Não tem nada a ver com essa história, pelo que li. Em caçando carneiros tem o Doutor Carneiros que teve uma experiência transcendental com um carneiro. Algo como se ele e o carneiro fossem um só.  Mas o carneiro saiu do homem e os protagonistas estão a procura desse carneiro que tem um propósito sinistro. Não me parece que Dance... seja uma continuação dessa história. É uma justificativa para a origem do Homem Carneiro (Sheep Man).

Depois surge uma menina de 13 anos abandonada no hotel pela mãe fotografa que vai para o Havaí e quem tem que levar a menina para Tóquio é o protagonista. Qual  nome dele mesmo? Não lembro.
Ocorre que a menina, Yuki é muito sozinha. O pai um escritor que gosta de aventuras esportivas mora fora da cidade e ela fica sozinha quando a mãe some nesses devaneios fotográficos. Ela se apega ao moço e ele acaba sendo como uma baba para ela. Nesse meio tempo ele procura um amigo da escola que ele viu com Kiki num filme. Gotanda e ele se tornam bem próximos. Gotanda tem o habito de pedir mulheres para se divertir e uma delas que ele pede para o protagonista é encontrada morta. Varias pessoas começam a morrer a sua volta a medida que ele tem sonhos de terror com esqueletos e gente atravessando paredes ou chamando-o para que atravesse a parede com esse espectro, mas ele resiste. A descrição parece real, mas é só sonho.

Por fim ele volta a encontrar a recepcionista de Sapporo e eles decidem ficar por lá para ver se a relação vai dar certo.

Todo o livro está direcionado para os desaparecimentos (vanishes). O que não é real desaparece. É preciso ter coragem para viver e não desaparecer. A vida do protagonista é tão monótona e sistemática que se ele não "dançar", se movimentar, viajar, se der uns saltos, de vez em quando, ele próprio desaparecerá. Deixará de existir. Para existir é preciso se movimentar. Aristóteles já dizia: A vida é movimento.




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