The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


terça-feira, 23 de agosto de 2016

Ebook: O Incolor T. T e seus anos de peregrinação


Mais um do Haruki Murakami. Depois de alguns livros lidos do mesmo autor vc. já percebe o caminho que ele percorre. Os recursos que usa. As estratégias, em geral,sempre as mesmas. Murakami apela para o sonho. Sonhos simples, mas na maioria das vezes sonhos estranhos. São um truque para cortar o fluxo da narrativa principal e adiar o desfecho. O leitor é desviado do que ele quer saber: como acaba essa história, para outros momentos, interessantes ou não. No fim, o que interessa pode se revelar frustrante ou não. 

Nessa história, o protagonista tem quatro amigos de escola: dois rapazes e duas moças e eles tem uma afinidade que para eles é perfeita, mas que se revela ser incapaz de ser superada quando uma das garotas passa por um evento que obriga os demais a excluírem Tsukuro do grupo. Ele é incolor porque todos os quatro tem no seu nome uma cor: azul, vermelho, branca e preta.

O evento de exclusão faz com que Tsukuro entre em depressão, mas depois de seis meses ele supera o ocorrido, embora não deixe de feri-lo. A vida tem que seguir em frente ou deixaria de existir. Ele gosta de trens e sempre que tem algum problema costuma entrar numa estação de trens e ficar horas no banco olhando os trens que chegam e saem, as pessoas que vão e vem. Isso o acalma. Nadar todos os dias na piscina da universidade e depois de formado num clube, também o ajuda a sair do estado depressivo e recuperar a forma física. Na piscina ele conhece outro aluno de quem se torna amigo e recupera a confiança de que ele pode fazer novas conexões, mas jamais será o mesmo tipo de amizade que teve com os quatro coloridos.

Murakami usa muito a música para costurar suas histórias. todos seus personagens são versados em música clássica e jazz. Ele mesmo o é, além de ser nadador e corredor. Começou correndo e depois experimentou provas de triatlo: nadar, pedalar e correr.

Há detalhes que fazem parte da narrativa e que tem a ver com as músicas que ele usa, mas isso deixo para quem tiver disposição para pesquisar. Se quiser ouvir as sinfonias de Liszt citadas elas estão aqui.

O fim não me agradou pois fica uma sensação de que poderia ter mais um capitulo. O encontro final entre Tsukuro e a namorada. Mas ele dorme e não se sabe se ele morreu ou simplesmente continuou dormindo, pois a história acaba.

Murakami é aquele escritor que sempre está na lista de candidatos ao Nobel, mas apesar de falar de seu pais, o autor é muito ocidentalizado. Todos seus personagens gostam de tudo que o ocidente oferece, tudo mesmo. O autor ganha em um lado, mas perde a oportunidade de mostrar o que ninguém quer mostrar sobre seu país. Sendo assim, pode ser que ele não ganha um Nobel tão cedo, quiça nunca.

Talvez ele tenha ensaiado alguns passos quando escreveu sobre o ataque de gás sarin no metro, Sobre o terremoto de Kobe e sobre a participação do Japão na segunda guerra mundial (esse muito superficialmente).O Japão tem temas bons para se desenvolver. Quem vai escrever sobre Fukushima? Murakami talvez coloque esses temas apenas como um quado na parede e não os abrace profundamente. Talvez ele não se identifique com seu país a ponto de escrever mais profundamente sobre eles. Ele foca nas pessoas e na angustia que é viver nesse país.

O que já li do autor:

Kafka à beira mar
O que eu falo quando falo de corrida
Minha querida sputnik
O Incolor T.T

O que tenho para ler do autor:

Norwegian Wood
Dance Dance Dance
1Q84 vol 1,2,3
Caçando carneiros
The wind-up bird chronicle
The elephant vanishes

O que quero ler primeiro:

Underground
After the quake

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