Livro:O Mundo Novo de Coetzee

O vegetarianismo é um tema recorrente na obra do autor. Em seu último livro: A Infância de Jesus os protagonistas chegam a uma colônia, supostamente o único mundo que restou, e lá acabam descobrindo que não há onde comprar carne. Não se sabe se as pessoas não consomem  elas apenas ignoram questionamentos a respeito.  Consumo no sentido usual do costumamos chamar de consumismo também não aparece.

Entrando na colônia residencial chamada Noville Saimon e David terão uma vida simples sem questionamentos e com apenas o necessário para viver. Se quiserem trabalhar ok, se não quiserem o sistema lhes irá sustentar. Quase tudo é gratuito. Há uma oferta limitada de itens de consumo e de comida. A princípio comer carne é desencorajado, mas alguns poucos ainda comem. Ter animais de estimação idem. Sexo é igualmente desencorajado. Não se fala no assunto, mas se alguém quiser se aliviar com uma profissional precisa preencher um formulário, esperar para fazer entrevista com uma terapeuta e então ser ou não admitido num clube onde poderá ter sexo por 30 min. Mas o processo demora tanto que os caras acabam desistindo.

Não há grandes preocupações pois as pessoas recebem um salario quer trabalhem ou não e pelo menos a primeira refeição é gratuita, transporte e moradia também não se paga. Alguns trabalham para se ocupar e passar o tempo mais pela noção de estarem sendo uteis a todos fazendo o que fazem. "Boa vontade" é uma palavra de ordem. Todos devem cultivar a boa vontade.

 O Admirável Mundo Novo de Coetzee é um mundo sem consumo, sem carne, sem desejo sexual, sem tecnologias, uma organização social indefinida. Um mundo apático na visão do protagonista que parece ser o elemento que precisa se adaptar ou cair fora. Como não há outro lugar para ir ele irá relutar até se adaptar.  Só o menino que não se adapta e sofre as consequencias.

O objetivo de Simon é encontrar uma mãe para o menino que ele trouxe com ele. E ele acaba encontrando Inês, uma moça que super protege e mima o garoto excessivamente.

Jesus teria tido uma infância discreta. Somente aos 12 anos manifestou alguma consciência do seu estado especial quando expulsou os vendedores do templo, mas depois sumiu por anos. Se ele tivesse ficado na companhia dos pais tendo surtos de "o salvador" certamente sua família e ele mesmo teria problemas.

De certa forma é o que acontece com o pequeno David em A Infância de Jesus. Ele não parece ser uma criança normal, mas sua anormalidade é interpretada como se ele fosse superdotado, especial , até mesmo louco e na escola a psicologa suspeita que ele seja disléxico. Ele não tem um pai e uma mãe biológicos e é criado por uma mãe escolhida por Simón, o cara que o trouxe da colônia chamada Belstar. Local onde os remanecentes do mundo chegam para aprender espanhol, se adaptar e terem suas memórias do mundo antigo apagadas.

Simon se adapta mas não consegue entender por David não segue as regras. O menino é cheio de nonsense e obcecado por ser invisível e salvar tudo.

David soa como um tipo insuportável que precisa ser suportado pois é uma criança cujos adultos fazem tudo que ele quer. Seu nonsense chega ao ponto em que seus protetores precisam retirá-lo de cena para que ele viva como quer e não como querem que ele viva.

Possíveis interpretadões já foram feitas, mas não sei qual é a interpretação do autor e não acho que ele deveria abri-la.