The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Filme da Semana: Cisne Negro ou Filme Noir

A única pessoa que está no seu caminho é vc. mesma.

Dos últimos filmes que vi com Natalie Portmann gosto da cena de, V de Vingança, em que a personagem de Portmann é deixada em uma cela. De tempos em tempos recebe um banho de esguicho, como se fosse um choque de pressão. Ela é levada ao limite do estresse. O objetivo é despertar ou ver o mundo com outros olhos, ver além do visível. Lá está ela em Closer-Perto Demais, em Star Wars, como a rainha Padme e o mais recente: Cisne Negro (Black Swan).

Estou de passagem por Sampa e aproveito para ver o filme já que ele certamente demorará para chegar onde estou. Talvez nem chegue. E o Belas Artes ainda está aberto.
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Desta vez a personagem de Portman, Nina tb. é instigada a transformar-se, mas quando se leva ao limite uma mente saudável ela transcende e quando se leva ao limite uma mente doente ela surta. Agora é a vez de surtar.

O Cisne Negro precisa depenar o Branco para ter seu lugar? Não, sequer há uma disputa, na peça original. Porque uma bailarina dança o Cisne Branco e outra o Negro. Mas no filme uma única bailarina dança os dois cisnes e se não fosse assim não haveria o mesma tensão psicológica. A disputa é consigo mesmo. Entre sanidade X insanidade. O filme é baseado no Balé O Lago dos Cisnes? Sim e não. Exagera nas tintas porque é assim que quer aparecer: assustar. O desfecho do filme é o mesmo da peça de balé apresentado de outra forma imprevisível. No Balé de Tchaikovsky o fim é trágico. Mas não é a obsessão e sim a dor da perda a causa. No filme não há nenhum príncipe a ser disputado (talvez a atenção do diretor) e um lugar de destaque no palco. Se transformar no cisne é uma proposta levada demasiado a sério por uma pessoa já atormentada pela obsessão da mãe em vê-la triunfar no palco. Ser levado ao limite, aparece novamente como argumento nesse filme. E Portman tem experiência para desempenhar o papel.






Cisne Negro apenas como um filme típico de horror, não convence. Aliás se os críticos que sabem tudo tivessem dito que era um filme de horror não teria perdido meu tempo com ele. Embora não tenha lido os sinais. "Negro" já seria uma indicação? O filme não é ruim, apenas não é meu gênero favorito: "horror, terror". Os truques não funcionam comigo e se não funcionam o filme fica sem graça.

O que dirão os amantes da peça de balé? Que Hollywood estragou uma obra de arte? Não sei. Os cri-cris do balé devem saber avaliar melhor. Mas suspeito que quem já teve o prazer de ver o Lago dos Cisnes não deveria perder seu tempo com o filme. O filme não é O Lago dos Cisnes e o Lago dos Cisnes não é o filme. É outra coisa.



A proposta do filme é puramente comercial. Se alguém vir arte terá sido fisgado pelos truques e iscas e eles estão para todos os gostos e públicos. A atriz coadjuvante, que interpreta Lilly, consegue roubar a cena. Natalie Portman não provou que fez todas as cenas, pelo menos da cintura para baixo. Pode ter treinado balé,mas não é uma bailarina e sim uma atriz. A bailarina é ambas. Mas isso realmente importa?O cinema é feito assim, como se fosse mágica. Vc. sabe que ninguém desaparece no meio da fumaça e que o coelho não se transforma em flores, mas vc. fica fascinado com a ilusão de ser possível.

A metáfora do esforço através da transformação é fraca. Se o propósito for mostrar a diferença entre uma mente doente e uma saudável. Que alguém pode desempenhar o papel sem entrar na pele do personagem sem delirar, afinal, Lilly faria o mesmo como substituta, sem surtar.

Os velhos clichês, de que é preciso se transformar em mulher para dançar o cisne, ou amadurecer. Bem isso é conto de fadas. De dia cisne, de noite mulher. A contraposição entre uma menina comportada de dia,um lindo cisne no lago, e uma mulher que a noite perde a virgindade nos braços de um príncipe, o amante.

O fim é trágico, mas é o fim possível. É onde o conto de fadas encontra a personagem. A fusão, ainda que conseguida no delírio psicológico é perfeita. O máximo da perfeição desejada é alcançada, mas não há felicidade ou alegria na perfeição.

Pessoas comuns não pensam com tanta sofisticação. Estou cada vez mais comum. Perdoem-me os que gostam de sangue, pele e penas.

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