The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


domingo, 10 de outubro de 2010

Eu não abro nem fecho

Certa vez alguém disse que sou cheia de gavetinhas. Às vezes eu abro uma e depois me arrependo e me fecho.

Talvez as gavetas que eu abra primeiro sejam tão assustadoras que ninguém se atreve a olhar lá dentro ou talvez as pessoas sejam tão desprovidas de curiosidade para puxar alguma das gavetas por si mesmas.

Talvez eu não me abra tanto até ter garantias ou intimidade suficiente, confiança.

Ninguém foi muito longe, nem viu tudo que há nas gavetinhas. Ninguém se dedicou a investigar de perto o que tem nelas. O que pode ser mostrado. As pessoas esperam que esse movimento venha de mim e nem sempre tenho energia pra me abrir.
Se considerarmos que queremos as coisas já e não queremos esperar pelo tempo da espera. A decepção do já pode ser a mesma da decepção da espera, apenas ela vem mais rápido. Antigamente eu decepcionava já, para que as pessoas desistissem de mim e me deixassem em paz. Por que não tinha treinamento para lidar com frustrações. Eu queimava meu filme na primeira chance e a vida seguia sem culpas.

E hoje já não me é tão desconfortável dar uma amostra e permitir comparações. Mesmo correndo o risco de perder na avaliação imediata. Mas no fim é melhor que acabe logo do que se fique sonhando com o impossível.

Eu nunca prometo nada, nem peço nada. Talvez seja uma fraqueza minha. Mas se não houver entrega de um lado, não haverá do outro. E lutar por uma batalha perdida é no mínimo um sintoma de apego.

Enquanto muitas pessoas não cansam de gastar energia se mostrando, fazendo marketing de si mesmas, me recolho. Não adianta mostrar o que não posso sustentar. Seria como enganar por um momento para conquistar a atenção ou admiração. O que cada um viu ou achou que viu vem do anseio de cada um.

O que posso ensinar e o que posso aprender abrindo e fechando ao sabor do momento?

Talvez algum dia chegue a sabedoria de uma garotinha que conheci e certa vez do nada disse:"Eu não abro, nem fecho."

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