The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


domingo, 18 de fevereiro de 2018

EBook: Gente Pobre

O surreal, em Gente Pobre de Dosto, é a chantagem mutua entre Makar e Barbara. Primeiro ele sacrifica o pouco que tem para seduzi-la.. Quando se endivida, ela passa a mandar-lhe dinheiro. pouco, uma ninharia. O que faz Makar? Se embebeda. A envergonha, mas ela continua a enviar dinheiro. Para o fumo, diz ela. Pois ele não pode passar sem. E assim vemos que ele que pretendia de início sustenta-la passa a depender dela, que trabalha costurando para se sustentar. Esse tipo de relação entre marido que bebe e não consegue sustentar a família x mulher que trabalha para sustentar o marido e os filhos, vai se repetir por quase toda a obra de Dosto.

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Falo em chantagem porque quando um está bem ou outro está mal e vise-versa. Chega a ser cômico.

De início Barbara tem a ilusão romântica de que Makar vai sacrificar-se para tira-la da pobreza, mas logo ela se decepciona com as fraquezas dele. Além dessas fraquezas, que  ele reconhece e depois pergunta de quem é culpa? A culpa de ser pobre ou de ser fraco? Quando se pergunta se é um absurdo aspirar ser alguém, essa pergunta aos setenta anos é sim absurda. Poderia ser feita na juventude. Todavia quando a pessoa se acomoda por 30 anos em um emprego de servidor público, e no caso dessa classe de servidor, que recebe muito pouco, fica difícil reparar o presente. Já não há mais tempo para mudanças.

Por fim a sorte lhe sorri. Um ajuda inesperada do patrão. Ele então pode se recompor e ao final arranja emprego de copista para escritores. E a sorte também apresenta solução a Barbara com um casamento salvador. Dosto nos faz sofrer mas no fim vem a catarse. No amor, claro, ainda que amor ao dinheiro, porque é um romance.


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