The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Livro/Audio:Crime e Castigo

O crime ocorre no capítulo sete da primeira parte, mas o castigo recaí sobre o leitor que precisa ler uma longa descrição psicológica.

A perversão mental de Raskolnikov agravada por todas as mazelas da sociedade russa. A pobreza, as mulheres se prostituindo para sustentar a família, cujos homens são beberrões e sem animo para o trabalho. 

A sociedade russa é movida por vodca, o grande irmã dos pobres e dos ricos. E da embriaguez veem os maus tratos, comuns da cultura, como próprio autor diz em artigos que escreveu para revistas, "a  já conhecida pancadaria russa." Pútin até sancionou uma lei que permite que os maridos batam nas esposas e filhos uma vez por ano, mas sem dolo, senão vão para a cadeia. Para se aliviar. Por que não batem num poste?

O protagonista mata a senhoria do seu prédio tida como agiota e detestada por todos, achando que fez um favor a si mesmo e a sociedade, a qual ela explora. Mas ele também quer dar uma vida melhor a sua família, por isso rouba a mulher que matou e sua irmã, que chega na hora errada. Todavia, depois de ter cometido o crime ele vem a saber que a irmã dele arranjou um pretendente rico e por conseguinte a vida de todos se revela salva. Mas Ródia fica possesso ao saber disso pois ele considera que era ele quem deveria se sacrificar pela mãe e pela irmã e não a irmã. Ele não imagina a possibilidade de a irmã ter algum afeto pelo homem que irá se casar. 

Raskolnikov tem mudanças de humor que oscilam o tempo todo. Ora tem remorso do que fez, ora se vangloria. Parece o Médico e Monstro, ou alguém de dupla personalidade. Põe medo em todos a sua volta que tentem se aproximar dele, inclusive a mãe e a irmã. É alucinadamente chato, um chato de galochas. Se fosse meu personagem já o tinha matado. Mas Dosto não considera a morte ou a prisão um castigo eficaz, embora para ele parece que ter sido condenado a morte e depois à prisão, para parece ter sido transformador, mas para os ignorantes não funciona, segundo sua tese. Eles apenas aguentam o castigo e não mudam. Os intelectuais por certo sofrem com a consciência do crime, mas indivíduos pouco cultos ou analfabetos, talvez apenas absorvam o sofrimento ou o esqueçam. 

Este é um romance psicológico e Dosto é o maior representante desse gênero. Influenciou a literatura universal com suas técnicas de narrativa.  Portanto o castigo nessa história será psicologico em grande parte.

O personagem Ródia testa todos a sua volta de forma ardilosa para saber até onde eles sabem quem matou a mulher e se sabem ou desconfiam dele. Passar-se por louco, doente, etc, é parte da sua estratégia para afastar as suspeitas sobre si mesmo. O crime ao mesmo tempo o atormenta e o fascina.  Ele tem até uma teoria sobre "o crime". Nessa teoria algumas pessoas teriam o direito de fazer o que quisessem sem sofrem nenhuma punição porque estão acima da lei. Ou protegidas por circunstancias da sua origem elevada. 

Dosto explora a consciência do protagonista tentando mostrar que quem comete um crime sofre, tem apagamentos e esquece o que fez, ou se sente culpado, ou não sente nada. A solidão do crime é opressora, pois o protagonista não tem com quem falar sobre o que fez. Até ele conhecer uma moça que se prostitui para ajudar a família.

Mas algo novo acontece. A senhora que havia acusado Duna, a irmã de Ródia, lhe deixa uma herança. Três mil rublos. O noivado é desfeito. Tudo se resolve. Não serão mais miseráveis. Novamente Ródia se afasta. Não suporta a alegria dos outros. Ródia procura Sônia, a filha de Katerina Ivanovna para desabafar, mas acaba por julga-la por ela se prostituir para manter os quatro irmãos e a madrasta tísica. Depois ele confessa a ela o que fez.

Confessar o crime, ser preso não diminui o sofrimento de Ródia. Sua consciência não o deixa em paz. A prisão não é o castigo mais eficiente para ele. Sônia se muda para a Sibéria para ficar próxima de Ródia. Ele ficará por lá por quatro anos. O que diminui seu sofrimento eh admitir que ama Sonia. 


Os nomes russos são complicados mas pode-se identificar quando é feminino ou masculino pelo sobrenome. Em geral, um sobrenome masculino termina com consoante  muda Pavlov, e o feminino com uma vogal "a", Pavlova. 

Há ainda os apelidos e os diminutivos. Dmitri vira Mitya, Mitrei; Alexander-Alexey-Aliocha-Sasha (fem.); Pavel-Pacha; Maria-Macha; Pietr-Pétia; Liúbov-Liúba; Nastácia-Nastienka; Ivan-Vánia; Tatiana-Tánia; Vladmír-Vóva-Vovotchka; Sofia-Sônia.

A tradução, apesar de ser direto do russo, não precisava manter o vocabulário da época. Termos antiquados poderiam ter sido atualizados. 






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