The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


domingo, 3 de abril de 2016

Ebook: Expresso para a Índia

Resultado de imagem para expresso para a índia - viagens radicaisApesar de gostar muito dos livros do Airton Ortiz sobre viagens há neles algo que me incomoda. É o estilo predatório de viajar usando a desculpa de imersão na cultura. Mochileiros como Airton se aproveitam de preços bem convenientes para não dizer miseráveis. Alguns países até separam o local do turista e cobram preços diferentes para o turista. Caso da Tailândia e do Peru. Mas nem todos fazem isso. A Índia parece-me que ainda não o faz oficialmente. Mas basta ter cara de turista para ver os preços aumentarem consideravelmente. O que não a impede de ser um país onde muitos estrangeiros escolhem para viver o dolce far niente, por um tempo. Alguns estrangeiros alugam seus apartamentos no ocidente e vão viver na Índia, porque o custo de vida local é absurdamente mais barato que nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça ou mesmo no Brasil. Airton, só faz estimular esse tipo de prática, que ele usa e abusa, como um buana explorador, no sentido pejorativo do explorador.

Todos os esteriótipos sobre a Índia estão presentes. A Índia não mudou, para o azar de alguns que torcem por sua ocidentalização e a sorte de outros que torcem que ela siga assim para poder continuar sendo explorada. E para os que querem mudá-la com sua visão ocidentalizada, ela certamente não mudará tão cedo. Entenda ou não você o que significa o sistema de castas por lá. Concorde ou não, melhor não se meter nos assuntos locais, pois lá um estrangeiro será nada menos que um sem casta, portanto, um impuro, intocável, um dalit. De dalit para dalit você pode ajudar os sem casta e até lhes dar comida, mas não espere receber nada de alguém com casta. Foi o que Aiton percebeu. Embora isso possa ser diferente no ambiente de uma empresa que tem funcionários de várias nacionalidades.

Esqueça as suas mãos e o seu hábito de tocar as pessoas. Indianos não se tocam em público. Não trocam caricias, não andam de mãos dados, exceto homens, e não se beijam fora do seu quarto. Sempre pegue a comida e coma com a mão esquerda, pois a direita é considerada impura. É a mão que eles usam no banheiro. E quem se limpa com a mão direita? Esqueça. O que vale é a tradição deles não a sua. Alias, muitos comem com a mão. Mas vc. pode solicitar uma colher ou garfo. Facas são raras já que a presença de carne é proibida na maioria das regões da Índia.

A maioria dos indianos hinduístas são vegetarianos, mas em alguns restaurantes em lugares mais turísticos pode-se encontrar frango ou carneiro no cardápio. Você vai ver no nome do restaurante: Veg ou Non-Veg

Não é aceitável tocar o copo, garrafa com os lábios. Se beber em público verá como eles fazem.

O enxame de gente nas ruas e nas estações, ou em qualquer lugar estará lá e o seguirá para onde você for atrás de suas rúpias. Pois o indiano vive dia após dia atrás de rúpias. É a luta pela sobrevivência.
Enquanto nós podemos viver lá por seis meses sem trabalhar, apenas atoa, eles precisam diariamente, como saúvas no formigueiro, trabalhar para levar comida para seu ninho. tenha em mente que os pedintes, crianças na maioria das vezes, são aliciadas por adultos que os exploram. Há uma "industria  secular" da esmola na Índia. inclusive com sucessão familiar e demarcação de pontos da cidade onde somente quem tem a "concessão" do ponto pode esmolar nele. Não dê muito dinheiro às crianças, isso pode lhes trazer problemas e até causar violência ou morte devido as disputas entre as gangues da esmola. Se quiser dar algo, dê comida, doces, ou moedas de pequeno valor. Jamais dê dólares. Uma pessoa certa vez, compadecida com a pobreza que via, deu cem dólares a um menino. Ele apanhou em casa pois sua família pensou que havia roubado de algum turista.

Os trens lotados também estarão lá. Se você tiver disposição de disputar um lugar em seus vagões. Trens modernos existem, mas são caros para a população em geral e são usados mais por turistas e estrangeiros que viajam a trabalho. Lembre-se que os trens não são velozes e uma simples viagem de alguns quilômetros pode levar infindáveis horas então as de maior quilometragem podem levar dias.

O calor também está lá e é cada vez mais insuportável. A miséria, a falta de higiene, o cheiro de esgoto a céu aberto, e todos os cheiros, idem. Um país onde ter um banheiro em casa e sistema de esgoto é um luxo, imagine para onde vão as fezes de milhões de desassistidos abandonados por um sistema  classista e corrupto. Além disso os indianos jogam tudo que descartam,após seu consumo, na rua. Isso atrai corvos, ratos, as vacas comem o lixo das ruas.

O colorido e as comidas super apimentadas não deixaram de existir porque você não come nada com pimenta. Alias, tem pimenta até nos pratos doces. Prepare seu estomago ou leve um mini fogareiro e prepare sua própria comida. Isso seu Ortiz não lembrou de fazer, porque a comida é tão barata que vale apena, mesmo sendo tão insuportavelmente picante.

Siga seu conselho: não deixe de pedir o preço antes, pois se consumir algo e pedir o preço depois vai sair mais caro. Pechinchar é vital.  Ainda que custe centavos para ele.  Sempre irá pechinchar, sempre. E se for enganado em alguns centavos de rupias, se sentirá como se fosse roubado em milhões. Um caráter estranho, mas não incomum, para um viajante explorador. Mas sendo turista, pedir desconto é mesmo importante, pois o preço para você sempre será muito mais caro. Todavia reconheça e pague o preço justo.

Ressaltar só as coisas ruins também não é bom. Esse livro é de 2003. Mas se alguém pensa em ir para lá sugiro ler blogs de brasileiros que moraram ou moram na Índia por um longo tempo. Acho que são mais confiáveis do que o parecer de alguém que está de passagem pela Índia como mochileiro ou turista. Um curto período por um país tão grande e tão multifacetado não permite que se tenha uma visão honesta do lugar.

Um pouco mais de quem já morou lá.

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