The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


sábado, 14 de dezembro de 2013

Nietzsche ainda está gritando


As vezes que me deparei com esse livro minha intuição me disse que não deveria lê-lo. Como próprio Nietzsche gostava de dizer: devemos beber na fonte. Mas a fonte de Nietzsche é meio turva ao invés de saciar a sede pode causar inquietações que nem sempre estamos preparados para diluir.

O que fazer com uma frase desconcertante?

Minha intuição estava certa. Não é que seja um livro ruim, mas é apenas mais um que tenta romantizar a vida de um personagem histórico. Partindo do pressuposto:" E se ele tivesse feito análise?"

Num tempo em que a psicanálise ainda estava por ser descoberta e o que havia eram poucos estudos e álbum empirismo.

Pouco li de N. Ainda tenho um volume com uma coletânea sua. O fato é que ler aforismas me entedia. Cada frase é um assunto e não há uma unidade de texto o que impede que a leitura flua. Como leitura não funciona. Pois ele exige que se pare e pense, que se mastigue ainda mais o que ele acha que já digeriu.

Ademais os aforismos de N. tem um tom de discurso. Como se ele gritasse num palanque para uma platéia. Muitas vezes ele diz "nós" e não "eu" ou "você".  Esse "nós" conclama a todos mas não identifica todos, não une.

Por outro lado há muitos aspectos no pensamento de N. que se aproximam do Budismo porquanto ele certamente tinha alguma referencia do Budismo. Ou por leituras ou por influência de Schopenhauer por quem nutria alguma admiração.

Se N. diz que Deus está morto foi porque ele o matou em si para viver sem Deus. Pessoalmente tenho observado que é perfeitamente possível viver sem Deus. Desconstruir esse conceito que nos pesa tanto. Mas não me ofende esse jogo de não teísta. Vejo como um desafio. Só quem se atreve a testar a possibilidade de viver sem Deus pode dizer se ele faz falta ou não. Padrões podem ser mudados.

Ele disse que só seria entendido depois de 100 anos. Já se passaram mais de 200 anos e ainda não o entendemos. Achamos que o entendemos. Talvez N. não seja para ser entendido de uma forma plana. Cada um o entenderá a sua maneira. Certo ou errado não importa. Talvez o próprio N. não soubesse o que fazia ao certo, se filosofia, poesia, prosa ou música ou tudo junto e misturado. Ele tinha sim a ilusão de ser o melhor e a dor de não pertencer ao círculo dos maiores.



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