The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


domingo, 18 de dezembro de 2011

Resenha: Alice Para Sempre. Elton Liks.


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Alice é Áli, uma menina-moça como qualquer outra que cresce no sonho. Alice é a Alice maravilhada com os encantos do mundo real e fantástico. Alice sonha com lendas indiginas e se embrenha na floresta cheia de pássaros exóticos. Quer ser índia e andar livre até encontrar a verdadeira liberdade. Alice também é exótica, às vezes.

Alice para Sempre é o livro de estreia de Elton Licks, e que estreia. Não lembro de ter lido nada assim desde Clarice Lispestor e ouso dizer que até Clarice diria:"Uau, que livro!". Talvez Monteiro Lobato diria:"Rapaz, fizeste um bom trabalho!" Se fosse Quintana, diria:"Guri, por onde tu te escondestes todo este tempo?"

Alice é carente e se atira nos braços de homens jovens ou de meia idade, da cidade, do campo ou da floresta, homens que vêem e que não vêem, de todos os tipos sem preconceito e sem escolha. Alice é de todos e não é de ninguém. Como Macunaíma, Alice prova de todos os sabores sem ser devassa, embora possa parecer nas demasiadas incursões ao desejo. Depois descansa, dorme, vaga de cidade em cidade onde sempre há alguém que a receba, dê casa, comida, abraços, mãos dadas. Alice sofre de uma insatisfação crônica que os mais antigos sabem como transferir para os outros ou ocultar, mas Alice não sabe o que fazer de si e do tédio que há, apesar de tantos passarinhos, flores, rios, sonhos. Alice tenta mudar de geografia para outras cidades, estados, países, mas nada dura muito tempo. Logo sobrevém mais uma onda de cansaço da vida. Alice quer ser monge e não monja, quer viajar e esquecer de si. Ficar parado, meditar é bom, mas também cansa. A geografia, a botânica e a zoologia a acompanham e se repetem nos mesmos nomes de pássaros, rios, árvores,flores, como uma canção de sucesso que toca sem parar em todas as estações de rádio por onde ela passa. Como um mantra. Alice tem uma filha e às vezes esquece dela, às vezes a leva consigo em suas aventuras, depois a menina cresce e se torna sua companheira de estrada. A mãe some no encantamente pelo mar. Alice vive como uma hippie que aceita o que vier sem procurar por nada.

Alice some no mundo da fantasia por que é impossível satisfazer tanta geografia, tanta insatisfação de busca. O livro precisa acabar. Alguém precisa mostrar o caminho pra essa gúria. O autor precisa tomar um suco de abacaxi,  e escrever outras histórias.

O texto é poético no estilo. Usa metáforas para amenizar as incursões sexuais de Alice, que, são muitas logo no início quando se ganha ou se perde o leitor. Mas se fosse editado Alice ficaria sem peitos, sem bunda, sem sorvete, sem bicicleta. E depois acostuma-se. A linguagem parece infantil. Mas o texto não é para crianças. As repetições me lembram poemas de F.T. Marinetti, o futurista. Porém o autor diz-se surrealista. Talvez pela referência ao sonho. Os surrealistas reparam mais nos sonhos. Repetições de fauna e flora, ensaiam uma eco fábula.

Não sabia de seu interesse por Buda. Há varias passagens onde é citado, mas outros mestres e entidades aparecem porque Alice também procura uma ligação espiritual, ela experimenta atirando para todos os lados. Experimentar é o que a define. Alice é um experimento da fantasia, ou da linguagem, ou ambos.

Alice pode ser uma leitura deliciosa para quem nasceu ouvindo passarinho e subindo em árvores, mas para quem nasceu no asfalto pode ter que recorrer muitas vezes ao dicionário de palavras incomuns, regionai, as palavras assim como elas são ditas e não escritas. Jovens leitores que não têm tanta paciência podem abandonar Alice temporariamente ou para sempre.Que pena, deles, não de Alice que tem vida própria e continuará viajando.O leitor em formação achará Alice para Sempre, ou por algum tempo, uma leitura confusa. Assim é porque assim deve ser. De fato, o autor não facilita, inverte o jeito da frase, elimina alguns artigos e pronomes, mas isso não significa que seja ruim  É até bom pra sair do lugar comum e como sempre digo ficção não tem compromisso com certo ou errado. Ficção é criação, invenção,experimento. Tudo pode e tudo é valido. Os Surrealistas são um bom exemplo de invenção. Eles abriram as portas para um infinito de possibilidades. Precisava alguém avalizar? Ao leitor cabe ajustar o cérebro, embarcar na proposta, viajar com Alice. Alice quer conhecer muitas cidades, mas não da conta de ir até elas, são muitas, todavia, ela irá, nas mãos dos leitores.

Talvez Alice ficasse mais contente se tivesse sido publicada em papel escuro (tipo assim, reciclado). Papel branco lhe faria chorar de desgosto.

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