Dizem que para traduzir Finnegan´s Wake foi necessário aprender um novo idioma inventado por James Joyce. Decifrar o código com o qual ele escreveu esse livro. Joyce disse certa vez que escrevia para se divertir e que esse deveria ser o propósito do leitor. Parece que ele se divertia muito criando um universo inacessível ao leitor comum. Levante a mão quem leu Finnegan´s Wake ou mesmo Ulisses. Se o propósito do escritor era escrever para um circulo fechando de leitores não deveria ser publicado em larga escala. Sequer ser conhecido além daquele círculo de obstinados leitores que aceitam a proposta do escritor. Mas não parece que fosse esse o propósito de Joyce e sim tirar uma com a cara de quem o tentasse ler. Ele deve estar rindo ad eternum de todos.
Se alguém me perguntasse se faz falta não ter lido Joyce? Esse pergunta só poderei responder quando tiver lido mais que alguns contos. Não garanto que a leitura desse livro vai torná-lo alguém melhor ou mais sabido. Talvez o torne alguém raro por estar entre os poucos que o leram. Se é quer "ler" se aplica nesse caso. Talvez "tentar", "traduzir", "adaptar", "perseverar" se aplique melhor. Muitos que dizem tê-lo lido provavelmente mentem para passar por "raros", mas na verdade leram tudo sobre o livro, menos o livro. Se for para rir e se divertir e aprender como juntar palavra de vários idiomas, talvez como experimento seja interessante. Embora dificilmente alguém aguente mais de 500 páginas decifrando palavras. Há quem goste e para esses valerá cada palavra.
Neste livrinho, Michel Butor, que faz a introdução, admite que não leu Finnegans, que não passou de algumas frases na primeira página. Não é raro, é até comum fazer introdução de livro sem tê-lo lido. Pelo menos o livro que ele introduz supõem-se que tenha lido. Não censuro o prefaciador, ele mesmo diz que Finnegans é incompreensível até para os ingleses, e, mesmo para eles precisa ser traduzido ao inglês, pois Joyce não escreveu esse livro em inglês. É uma miscelânea de idiomas de palavras compostas por vários idiomas. Pega metade de uma palavra em latim, metade de outra em grego, um sufixo em alemão, um prefixo em italiano e por ai vai. Chega de fato, ser divertido. Quem gosta de idiomas, linguistas, etc, imagino que seja uma fonte de estudo como Joyce queria ser estudado e não lido, tá tudo certo.
Assim o prefaciador concorda que é impossível ser completamente fiel na tradução, que uma "tradução" desse livro terá que ser primeiro uma adaptação. Muitas coisas terão que ser deixadas de lado, cortadas, partes mutiladas. Uma versão original será sempre uma improvável versão baseada no original, não creio que valha a pena o esforço para leitores comuns. Joyce estava gozando com a nossa cara e não escreveu para ser lido. Ele só precisava de um meio para fazer sua catarse. Mas ninguém precisa leva-lo tão a sério. Acho que ele mesmo não se levava.
A única tradução em português é de Donaldo Schüller, o livro bilingue é dividido em cinco volumes. Quem quiser se aventurar .... Mas recomendo ir ao texto original primeiro, pode ser mais interessante que ficar lendo outros que não leram Finnegans falam. Se um dia vc. abrir o livro e constatar que foi enganado por embusteiros faladores que não leem livros mas sabem falar deles como se os tivessem lido pode ser tarde. E isso acontece com uma frequência espantosa. E então, quem sabe, vc. até tente traduzir algumas frases por si mesmo e acabe percebendo que não é o bicho.
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