O Livro Gomorra de Roberto Saviano, no início é cheio de ação, mas depois cai nas estatísticas e o relato não parece mais nem pessoal nem jornalistico e sim uma tese de universitário. O NYTimes escreveu sobre livro.
Sabia muito pouco de Nápoles antes de ir lá. Somente os habituais estigmas que acompanham e mesmo assim, mesmo crua e ingenuamente fiquei chocada.
Quem vive em grandes cidades e até na periferia delas vai achar que vive melhor em São Paulo do que os napolitanos. A cidade e a região vivem da exploração. Não importa de que categoria de exploração. Tudo que gere "soldi" é motivo para ser explorado. É muito fácil generalizar e achar que todos são maus, mas não deve ser nada fácil ser napolitano e viver com estigmas.
Ao abrir um dos jornais de Nápoles vê-se somente notícias de mortes. A gente pensa que já viu essa cena tantas vezes, mas lá é pior. Logo vc. aprende o significado da palavra "aguato". Assassinatos acontecem aos montes. Não há um dia de trégua entre as clãs. A lei é exterminar quem se intromete nos negócios, no território, quem não coopera e é claro quem se bandeia para o lado dos inimigos. Se matam entre si e as pessoas ficam assistindo esse bang bang a tanto tempo acabam por achar natural.
A região da Campanha onde fica Nápoles é a mais violenta da Europa. Não há emprego para os jovens. O deficit de desemprego é de mais de 32%. Ter uma vespa é um dos sonhos de consumo de qualquer garoto e isso pode ser visto pela quantidade de motos circulando nas ruas sem semáforo, onde vc. precisa arriscar-se a atravessa-las na sorte. As clãns oferecem o mimo para os meninos que se dispuserem a fazer algumas entregas. Não importa de que:drogas, contrabando de cigarros, armas, manufatura de marcas famosas, eletrônicos, comida, tudo que se possa imaginar e que gere lucro imediato. Depois de algumas entregas a vespa fica com o garoto. Ele nunca poderia comprar uma ganhando 300 Euros por mês, a média de sálario na cidade.
Esqueça o italiano. A lei da sobrevivencia obrigou os napolitanos a aprenderem inglês. Eles só falavam napolitano. A província abriga as ruínas de Pompeia e Ercolano além do vulcão Vesúvio e é passagem para quem vai à Sorrento, Capri e toda a costa amalfitana. Levas de estrangeiros circulam todos os dias pela cidade, mas ela parece que pouco ganha com tanto dinheiro circulando. Por conta de tantos estrangeiros os preços são abussivos, principalmente em Sorrento e Capri onde um refri pode ser vendido por até 5 euros. Pode ser comprado num mercadinho chinês por 0,80. Assim até mesmo os estrangeiros fazem sua farofa e enchem as mochilas para circular com água e comida pelos monumentos da cidade.
Comprei o livro Gamorra em Nápoles. Se tivesse lido esse livro antes talvez não tivesse ido là. Acabei de ver que ele já foi traduzido ao português.
Saviano se infiltrou no meio dos clãns e viveu como um deles por um tempo. Agora vive escondido e jurado de morte e ele sabe melhor que ninguém que eles nunca esquecem uma traição e sabem esperar.
O mar de Nápoles é azul como o da Grécia mas a cor que predomina é a do sangue.
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