The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Livro: Orlando: A aventura de ser dois em um

OrlandoLi Orlando pela primeira vez quando fazia Letras. Ainda tenho a edição. Lembro que tentei ler numa edição da BU, em inglês, mas não rolou. A curiosidade foi gerada pelo filme, 1992.  O  argumento de que um lorde rico é tomado por um sono profundo em um país onde servia como consul, turquia, e quando acorda tem seu sexo mudado, passando a ser mulher, me pareceu bom. Embora Virgínia faça muitos rodeios para chegar ao tema.

Feminista, mesmo num tempo onde não se falava tanto desse tema como hoje, ela via claramente as diferenças entre homens e mulheres na sociedade. Os homens podiam tudo e tinham extrema liberdade, enquanto que as mulheres eram trancafiadas em casa, relegadas a tarefas domésticas, ou de distração como bordado, leitura, escrever cartas, tocar piano, ou cantar. As mulheres serviam, os homens se serviam.

Muita coisa mudou, mas, às vezes, tem-se a sensação de que não. Quando se vislumbra conquistas, logo  vem um canhão de oposição conservadora querendo afugentar as mulheres para seu "lugar" na cozinha, na sala, no claustro. Vivemos em ondas.

Orlando experimenta os dois lados: Ser homem gostando de mulheres, mas ao se descobrir mulher, ele percebe que continua a gostar de mulheres, pois é a única referencia que teve enquanto homem,
Não aprendeu a gostar de homens e ao vê-los com olhos despertos percebe que são brutos, sujos, fedorentos, animalescos, que só veem as mulheres como um pedaço de carne. Ela passa a sentir pavor desse homem que julga não ter sido.

Virginia Woolf faz uma crítica e ao mesmo tempo tira um sarro com a nobreza. O culto a realeza é visto como idolatria por Orlando-ele e desdém por Orlando-ela. A realeza-nobreza-burguesa, é um mundo eminentemente masculino. Ali a mulher é apenas um adorno, como uma pena de pavão no chapéu dos homens.

É um livro fora da curva, considerando os demais que a autora escreveu. Não só pelo tema mas pelo estilo da narrativa. O argumento é bom e nas mãos um Machado de Assis poderia ter rendido mais do que nas de Virgínia, onde muitas vezes parece se perder no mundo que tenta criar. Ela que sabe muito bem trabalhar com personagens estáticos, ou sob seu domínio, quando os personagens tem alguma ação mais aventuresca parece não conseguir acompanha-los. 

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