Já vi muitas pessoas tecendo loas às capas.
Há uma onda de republicação de títulos de domínio público com capas caprichadas e muitos em boxes, lindos. As editoras dependem muito de livros de domínio público e de bestsellers. São esses livros que põe dinheiro em caixa e lhes permitem continuar no mercado. Um autor desconhecido vai precisar de muito investimento para torná-lo conhecido e não há mais essa disposição no mercado nacional. Se é que algum dia houve, excetuando Paulo Coelho, há tempos atrás.
O que precisa tomar cuidado é se o texto dentro dessas capas maravilhosas é um texto antigão ou se houve uma nova tradução.
Li há pouco tempo Crime e Castigo de uma editora que faz propaganda de ter feito a tradução do russo. Depois baixei uma edição portuguesa e não vi muita diferença. Achei que por ser uma nova tradução fossem atualizar a linguagem mas isso não aconteceu.
Se é domínio público e vc. domina o idioma de origem é melhor ler no idioma de origem. Isso não garante que seja melhor que ler traduzido. As peças de Shakespeare no original são num inglês muito mais arcaico, mas isso não é ruim porque no tempo do bardo o inglês tinha uma mistura de latim, francês, alemão e sabe-se lá mais o que.
O tradutor de Guerra e Paz, pelo que li na época, ganhou míseros 0,38 centavos por lauda. Deve ter levado uns 10 anos a traduzir, direito do russo. Talvez tenha ganho uma hernia de disco também. O que compensou é que a editora o inscreveu em todos os prêmios de literatura e ai ele deve ter ganho seu meio milhão.
Mas o Guerra é Paz saiu numa edição em dois volumes num tamanho que achei desinteressante. Agora já tem nova edição por outra editora. Não que esse texto seja melhor que qualquer outro é apenas uma outra versão. Se como disse uma professora de russo da USP, perde-se muito na tradução de Dosto ou Tolstoi, que fazer? Ou aprende-se russo ou lemos o que temos. Enfim, em idiomas não tão comuns como russo, japonês, árabe, finlandês, entre outros, ficamos nas mãos de tradutores.
Eu, pessoalmente, prefiro me concentrar no texto. Se não gosto da tradução, tento ler, quando o idioma me permite, no idioma original. Por exemplo, eu não gosto de poesia traduzida. Outro dia cai na tentação de comprar um livro de poesias da Elizabeth Bishop e a tradução não é um espelho do original. O tradutor, também poeta, optou por respeitar a métrica e as rimas, ai já viu. Você começa a ler em inglês e olha a tradução e não bate. Com Divina Comédia foi o mesmo drama. Preferi estudar italiano que ler a tradução. Traduções de poesia sempre me deixam frustrada.
Também já li Machado de Assis com a linguagem da época do Machado, não achei ruim. O livro foi escrito naquela época, e falava-se daquele jeito. Soa estranho? Claro, mas pode ser interessante saber como se falava no século XVIII, no Rio de Janeiro.
Portanto é o texto que me interessa. As capas desbotam, perdem sua beleza, mas o texto se conserva independente do papel, da textura, da porosidade, da gramatura, do tipo da impressão.
Portanto é o texto que me interessa. As capas desbotam, perdem sua beleza, mas o texto se conserva independente do papel, da textura, da porosidade, da gramatura, do tipo da impressão.
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