The only real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes. Marcel Proust


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um Livro "no Escuro": O Buda no Sótão.


Queria ler um livro sem saber nada sobre ele previamente. Livros com "Buda" no título já são uma isca fácil para mim, mas não é o suficiente para me convencer a lê-los. Lembro-me da decepção com "Um Buda na Mochila."

Dessa vez a escolha foi por The Buddha in the Attic, Julie Otsuka (O Buda no Sótão). Trata-se da jornada, de navio, de um grupo de mulheres que cruzam o oceano do Japão à São Francisco para casarem-se, pois em seu país as chances de casamento são escassas. Mesmo as que já casam-se uma ou duas vezes não tem mais com quem casar. Imigrar em busca de um novo começo é um dos temas do livro. Mas porque o Buda está no sótão? (se é que está), isso ainda não sei dizer. Imagino que ao entrar em uma sociedade capitalista e não-budista, certos aspectos trazidos do país de origem precisaram ser deixados de lado. As noivas são todas budistas, mas futuros maridos na América, talvez não o sejam.
Há sim algumas comparações culturais que são interessantes: "A esposa japonesa anda a dois passos atrás do marido e carrega as compras enquanto o marido não carrega nada. Já na América, os maridos abrem a porta para as esposas e dizem: Ladies first!"

Mas entre o imaginar como será a vida na América e o choque do desembarque, onde as noivas serão tomadas como simples mercadoria já acordada com seus pais, onde serão desposadas ali mesmo em hotéis baratos do cais e depois levadas aos campos para colher algodão, morangos, etc. Haverão que se conformar, pois voltar para o Japão, mesmo que queiram, nada há para elas de melhor por lá. A maioria já chegará a seu destino grávida, não por seus maridos mas por marujos com quem se deitaram no navio. Depois só terão que dizer a seus maridos: "Ele é a sua cara." Deve ser difícil achar que um bebê japonês seja a cara de outro quando eles tem uma fisionomia tão semelhante.

A guerra traz aos imigrantes japoneses na América um duro fardo. Muitos desaparecem. São separados de seus filhos, ou levados para campos de concentração. O medo de ser o próximo faz famílias inteiras sentirem-se inseguras e sempre sobre tensão. Eles imaginam o que pode acontecer, quem será o próximo e para onde irão.

A autora baseou sua pesquisa em cartas, relatos,diários da época.

A narrativa em terceira pessoa do plural se passa nos anos de 1920. Período da imigração para o Ocidente. A audácia dos japoneses ao bombardear Pearl Harbor recairá sobre seus conterrâneas, na América, como uma bomba.

Ao fugirem ou serem retirados de seus lares não era possível levar muito consigo. Então esquecer as coisas como estavam, deixá-las para trás. Casas e negócios abandonados. Cidades fantasmas, e até um Buda esquecido no sótão reflete o sentimento de partir, de fugir. As coisas mais amadas nem sempre podem ser levadas. O desapego torna-se obrigatório. Deixar para trás o sonho americano e conformar-se com a realidade dos fatos. Aquele país outrora abandonado em busca de dias melhores parece lhes punir, logo quando já tinham conquistado, arduamente, algum lugar ao sol.

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